A divulgação de uma nova versão do mapa-múndi com o Brasil no centro, feita por Márcio Pochmann, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), gerou forte reação entre servidores da instituição.
Em manifesto público, a Coordenação do Núcleo Sindical Chile, que representa trabalhadores da base do Complexo Chile/Horto, repudiou a iniciativa, classificando-a como uma distorção da realidade e uma ameaça à credibilidade técnica do órgão.
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A nova representação geográfica, divulgada por Pochmann nas redes sociais na última quarta-feira (7), apresenta o Hemisfério Sul na parte superior do mapa e o Brasil centralizado. Segundo o presidente do IBGE, a proposta busca “ressaltar a posição atual de liderança do Brasil” em fóruns internacionais como Brics e Mercosul, além da realização da COP 30, que será sediada em Belém (PA), em novembro deste ano.
O sindicato, no entanto, vê na ação uma tentativa simbólica sem respaldo técnico reconhecido pelas convenções cartográficas internacionais. Para os servidores, o novo mapa “compromete a credibilidade construída pelo IBGE ao longo de décadas de trabalho sério, imparcial e respeitado globalmente”. A nota ainda afirma que o país enfrenta problemas sociais graves, como desigualdade, precariedade educacional e perda de competitividade, que não podem ser solucionados com “ilusões gráficas”.
O manifesto também relembra outros episódios que, segundo os trabalhadores, evidenciam o uso político da instituição. Um deles foi a inclusão de um prefácio assinado pela governadora de Pernambuco Raquel Lyra na publicação técnica "Brasil em Números 2024", o que provocou protestos internos e acusações de desvio de finalidade. A justificativa da direção, de que haveria contrapartida financeira, foi desmentida por entidades citadas, como a Sudene.
Servidores alertam que a gestão atual tem falhado em preservar o caráter técnico do IBGE, empurrando o órgão para um campo simbólico e promocional. O comunicado cita violações a princípios constitucionais da administração pública, como impessoalidade, moralidade, finalidade e eficiência. “Nenhum país se torna mais respeitado por estar no centro de um papel”, diz o texto.
A polêmica acontece em meio a uma crise interna. Em janeiro, mais de 600 funcionários assinaram uma carta aberta acusando Pochmann de autoritarismo. Na ocasião, o presidente rebateu as críticas e afirmou que os servidores estavam mentindo, o que aprofundou a tensão. A recente divulgação do mapa reacendeu os embates e gerou forte repercussão nas redes sociais, com críticas, memes e questionamentos sobre a integridade dos dados produzidos pelo instituto.
Para os trabalhadores, o IBGE não pertence a gestões ou governos, mas ao Estado, à sociedade e ao futuro. O manifesto conclui: “Não ao mapa da vaidade. Sim à ciência, à integridade e à maturidade institucional”.
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